De acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), um dos principais motivos é a reprovação
Alice Dionisio | 10h
De acordo com o último levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), 573 jovens da rede municipal e estadual abandonaram os estudos em Poços de Caldas, no ano de 2018. Destes, 451 deixaram de frequentar as aulas durante o ensino médio, na rede estadual.
Para a Secretária Adjunta de Educação, Daniela Volpi, quando o estudante reprova e acha que está ficando “velho” demais para aquela série, ele para de ir às aulas. “Quando percebe que os amigos vão e ele vai ficando pra trás, com uma idade maior, acaba tendo até vergonha e prefere parar de frequentar a escola” diz.
Há poucos estudos específicos sobre distorção idade-série no Brasil. O estudo elaborado pelo UNICEF Brasil para essa estratégia mostra que há alguns fatores associados a essa situação se observados aqueles que estão presentes no Censo Escolar (INEP, 2017). Destacam-se questões que envolvem a localização das escolas (por exemplo, escolas em zonas rurais tendem a ter maiores taxas de distorção que as urbanas) e gênero (a distorção idade-série é maior entre meninos que meninas), dentre outros. Por outro lado, os dados das causas da exclusão escolar, observados até o momento, pela estratégia Busca Ativa Escolar mostram que o desinteresse pela escola é a causa mais citada. Há vários relatos de escuta de adolescentes em pesquisas que reforçam a desconexão entre as propostas pedagógicas e suas necessidades de aprendizagem. Assim, propor metodologias participativas, flexíveis e adaptadas à participação de estudantes e comunidade escolar, bem como ter uma compreensão mais integral dos adolescentes, são estruturantes para a estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar.
Por isso, em Poços de Caldas, há reuniões pedagógicas para avaliar o método de ensino e a forma de avaliação. “Principalmente quando há caso de reprovação, nós nos reunimos e o conselho da escola debate a trajetória daquele aluno. É aí que avaliamos também o método de avaliação da escola” explica Daniela.
A Prefeitura de Poços de Caldas anunciou recentemente a implantação da Busca Ativa Escolar, que tem como objetivo localizar os alunos que estão fora da escola. “O projeto já existe em outras cidades do país. Aqui na cidade, os profissionais da educação estão passando por uma capacitação. Leva em torno de três meses até que o programa comece a funcionar mesmo” garante a Secretária Adjunta de Educação.
Aula Online
A prefeitura criou um comitê extraordinário para debater a volta às aulas em Poços de Caldas. O grupo de 32 pessoas, formado por representantes de secretarias municipais, além de escolas e mais participantes, deve apresentar propostas e acompanhar as medidas para retomada das atividades presenciais. Mas de acordo com Daniela, não há previsão para que os estudantes retornem. “O Comitê é consultivo e não deliberativo. Primeiro precisamos de uma autorização do Governo do Estado para as aulas presenciais voltarem e a partir disso, nos reunimos e avaliamos se temos ou não condições para isso” explica Volpi.
Crime
O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seus artigos 53 e 54, asseguram a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. O delito pelo qual pais podem responder caso não tomem as iniciativas de matricular seus filhos na escola e garantir sua frequência é o de abandono intelectual (art. 246 do Código Penal, que estabelece pena de detenção de 15 dias a um mês ou multa). “Quando o aluno tem mais de 25% de falta, a escola encaminha um relatório ao Conselho Tutelar e nós chamamos os responsáveis. Eles recebem uma advertência e em caso de reincidência, encaminhamos o caso ao Ministério Público” explica a conselheira tutelar, Irene de Cássia Cavalcante.
A conselheira ainda acrescenta a importância da educação na vida dos futuros profissionais. “É fundamental! É na escola que adquirimos condições de enfrentar o mercado de trabalho, que é muito competitivo. Sabemos que quem não tem escolaridade, infelizmente não consegue bons empregos e aí é um efeito cascata, pode acabar indo para o mundo das drogas ou trilhando outros caminhos não muito bons” acrescenta Irene.